Contato Humano - Aninha Apolinário - Desde 2009
Trocar e dividir experiências com quem realmente faz diferença nesse mundo turbulento que vivemos. Ao compartilhar as fotos ou textos favor mencionar créditos: Aninha Apolinário. Obrigada e sejam bem vindos ;) Instagram @aninhaapolinario E-mail: aninhamusical@gmail.com
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domingo, 19 de junho de 2022
A vida, ah a vida...Data 18/06/2022
Sou uma eterna sagitariana, apaixonada pelo meu filho. Adoro fotografar, curtir a natureza, etc. E como diz o Fefê, I love you three...expliquei o correto e ele me fez acreditar que amar three é muito melhor que amar too e eu gostei ;)
sábado, 21 de março de 2020
Após um bom tempo sem escrever por aqui, decidi voltar a publicar meus textos.
@aninhaapolinario
Um bom momento para reflexão
Conversei sobre a pandemia coronavírus com o meu irmão, e esse papo me inspirou escrever esse texto.A morte é a única certeza nessa caixinha de surpresa(kinder ovo) que é a vida, então até lá eu quero viver, mudar, amadurecer, cair, levantar, ter mais calma, aprender, ensinar, superar, chorar, amar cada vez mais, ouvir mais a minha intuição, administrar melhor o meu tempo, ter mais tempo pro lazer, viajar mais, ser mais presente na vida da minha afilhada Dessax, curtir cada vez mais o meu filho, ser amorosa e comprometida com quem escolhi para estar ao meu lado, continuar encontrando todos os sábados o meu irmão que amo tanto para beber uma taça de vinho, ele que foi, é e sempre será a minha melhor referência e o meu amigo de verdade, aquele que apoia, puxa a orelha, ajuda, torce e vibra junto comigo e com as minhas conquistas, quero continuar curtindo muito a minha família, os meus amigos, colegas, clientes, vizinhos, enfim as pessoas especiais que cruzam o meu caminho por algum motivo e fico feliz que algumas decidem permanecer nele.
Quero ser Mulher Água...como disse Cora Coralina, poeta/poetisa genial, no poema homem água/homem
https://www.youtube.com/watch?v=WyP5qmk962I
Fico pensando com essa onda de coronavírus, a maioria das pessoas em casa, menos transporte públicos, comércio totalmente fechado, e que só as farmácias, hospitais e supermercados abrirão.
Que foi preciso esse silêncio para que na sequência exista algum som que soe um pouco menos acelerado e que seja possível respeitar um pouco mais a nossa casa, nosso planeta.
Espero que consigam ter a certeza de que o dinheiro não é tudo nessa vida !
E que seja possível superarmos logo essa pandemia.
E como divulgou o greenpeace: - Quando a última árvore tiver caído, quando o último rio tiver secado, quando o último peixe for pescado, vocês vão entender que dinheiro não se come @greenpeace
Imagino o quão pequena a maioria das pessoas que vivem atrás do dinheiro devem estar se sentindo...não adianta ter somente dinheiro. Não poder sair de casa pra gastar, não poder comprar nada pela internet e não ter nenhum ser humano, nenhum profissional, pra entregar o pedido. Vamos parar e pensar na febre desenfreada do consumismo !
Estamos no mesmo barco. Essa pandemia veio pra ensinar muita gente, que precisamos um do outro, que não é possível fazermos nada sozinhos. Até para vir ao mundo e partir desse mundo precisamos do outro.
É preciso parar, olhar e realmente enxergar o outro, dar um bom dia, boa tarde e uma boa noite. Dizer obrigada, se desculpar e ser mais gentil.
Precisamos ter mais amor, serenidade, empatia, afeto, solidariedade, humildade e reciprocidade. Precisamos elogiar mais, valorizar o outro e o serviço dele também, cada profissional é importante no serviço que faz.
Precisamos ouvir mais nossa criança interior ;)
Chega de ódio, de perseguição, de fofocas, parem de inventar histórias, de cuidar da vida do outro, enxergue o que a pessoa possue de melhor. Respeite o mundo de cada um.
Ninguém é melhor que ninguém, talvez alguns consigam mais oportunidades e recursos que os outros, mas todos erram, acertam, sofrem, sentem, e como canta o Frejat todo mundo é parecido quando sente dor. @frejatoficial
Que seja possível uma conscientização, uma reflexão, mais amor no mundo, resiliência, ressignificação e um amadurecimento coletivo.
Que seja possível observar e cuidar melhor do nosso planeta.
Me considero um ser humano carne e osso, e tenho certeza de que nunca agradaremos a tudo e a todos, então aproveite essa pausa para se ouvir, se respeitar, rir, descansar, ouvir a sua alma, ligar para alguém que sente saudade, curtir a sua casa, seu pet ou escolher uma parte do dia para não fazer nada, por que não ?
Aproveite esse tempo só seu para fazer novas escolhas, pra se inspirar em novos caminhos, pra fazer um balanço do que realmente é importante na sua vida e de quem é realmente importante na sua vida, aquela pessoa que realmente se importa com você, não com o seu sobrenome, cargo ou sua conta bancária.
Invista mais em você, tenha mais qualidade de vida, curta os pequenos prazeres da vida, inclua + programas com amigos, natureza, lazer, músicas, arte urbana, poemas, poesias, artes, biografias, autobiografias, filmes e documentários em sua Invista mais no belo !
Não viva de aparências. Siga o seu coração.
Seja a sua melhor companhia !
Por favor fiquem em casa, a natureza, os animais, o próximo e o planeta agradecem. Só com essa pausa, já foi possível purificar um pouco o ar, evitar cortes das árvores, enfim finalmente um ciclo positivo.
Que ironia do destino, antes dessa pandemia éramos livres, mas todos ficavam conectados no mundo virtual e agora estamos presos em nossas próprias casas, lidando com nossa vida real, aos poucos detestando a vida virtual e desejando nossa liberdade de volta. Ana Apolinário - instagram: @aninhaapolinario - Facebook: aninhaapolinario
#aninhaapolinario
#pordosol #sunset #maravilhoso #amazing #nuvem #nuvens #cloud #clouds #aninhaapolinario_pordosol #aninhaapolinario_sunset #covid19
#pare #stop #reflexao #reflexão #pausa #pause #covid_19 #coronavirusbrazil #coronavirus #todosjuntos #tempo #time
Sou uma eterna sagitariana, apaixonada pelo meu filho. Adoro fotografar, curtir a natureza, etc. E como diz o Fefê, I love you three...expliquei o correto e ele me fez acreditar que amar three é muito melhor que amar too e eu gostei ;)
quarta-feira, 28 de agosto de 2019
Por Guimarães Rosa
“O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem.
O que Deus quer é ver a gente
aprendendo a ser capaz
de ficar alegre a mais,
no meio da alegria,
e inda mais alegre
ainda no meio da tristeza!
A vida inventa!
A gente principia as coisas,
no não saber por que,
e desde aí perde o poder de continuação
porque a vida é mutirão de todos,
por todos remexida e temperada.
O mais importante e bonito, do mundo, é isto:
que as pessoas não estão sempre iguais,
ainda não foram terminadas,
mas que elas vão sempre mudando.
Afinam ou desafinam. Verdade maior.
Viver é muito perigoso; e não é não.
Nem sei explicar estas coisas.
Um sentir é o do sentente, mas outro é do sentidor.”
Fonte Revista Pazes
https://www.revistapazes.com/rosa-vida-coragem/
“O correr da vida embrulha tudo,
a vida é assim: esquenta e esfria,
aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta.
O que ela quer da gente é coragem.
O que Deus quer é ver a gente
aprendendo a ser capaz
de ficar alegre a mais,
no meio da alegria,
e inda mais alegre
ainda no meio da tristeza!
A vida inventa!
A gente principia as coisas,
no não saber por que,
e desde aí perde o poder de continuação
porque a vida é mutirão de todos,
por todos remexida e temperada.
O mais importante e bonito, do mundo, é isto:
que as pessoas não estão sempre iguais,
ainda não foram terminadas,
mas que elas vão sempre mudando.
Afinam ou desafinam. Verdade maior.
Viver é muito perigoso; e não é não.
Nem sei explicar estas coisas.
Um sentir é o do sentente, mas outro é do sentidor.”
Fonte Revista Pazes
https://www.revistapazes.com/rosa-vida-coragem/
Sou uma eterna sagitariana, apaixonada pelo meu filho. Adoro fotografar, curtir a natureza, etc. E como diz o Fefê, I love you three...expliquei o correto e ele me fez acreditar que amar three é muito melhor que amar too e eu gostei ;)
sexta-feira, 27 de abril de 2018
Pipoca por Rubem Alves
A pipoca
A culinária me fascina. De vez em quando eu até me até atrevo a cozinhar. Mas o fato é que sou mais competente com as palavras do que com as panelas.
Por isso tenho mais escrito sobre comidas que cozinhado. Dedico-me a algo que poderia ter o nome de "culinária literária". Já escrevi sobre as mais variadas entidades do mundo da cozinha: cebolas, ora-pro-nobis, picadinho de carne com tomate feijão e arroz, bacalhoada, suflês, sopas, churrascos.
Cheguei mesmo a dedicar metade de um livro poético-filosófico a uma meditação sobre o filme A Festa de Babette que é uma celebração da comida como ritual de feitiçaria. Sabedor das minhas limitações e competências, nunca escrevi como chef. Escrevi como filósofo, poeta, psicanalista e teólogo — porque a culinária estimula todas essas funções do pensamento.
As comidas, para mim, são entidades oníricas.
Provocam a minha capacidade de sonhar. Nunca imaginei, entretanto, que chegaria um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. Pois foi precisamente isso que aconteceu.
A pipoca, milho mirrado, grãos redondos e duros, me pareceu uma simples molecagem, brincadeira deliciosa, sem dimensões metafísicas ou psicanalíticas. Entretanto, dias atrás, conversando com uma paciente, ela mencionou a pipoca. E algo inesperado na minha mente aconteceu. Minhas idéias começaram a estourar como pipoca. Percebi, então, a relação metafórica entre a pipoca e o ato de pensar. Um bom pensamento nasce como uma pipoca que estoura, de forma inesperada e imprevisível.
A pipoca se revelou a mim, então, como um extraordinário objeto poético. Poético porque, ao pensar nelas, as pipocas, meu pensamento se pôs a dar estouros e pulos como aqueles das pipocas dentro de uma panela. Lembrei-me do sentido religioso da pipoca. A pipoca tem sentido religioso? Pois tem.
Para os cristãos, religiosos são o pão e o vinho, que simbolizam o corpo e o sangue de Cristo, a mistura de vida e alegria (porque vida, só vida, sem alegria, não é vida...). Pão e vinho devem ser bebidos juntos. Vida e alegria devem existir juntas.
Lembrei-me, então, de lição que aprendi com a Mãe Stella, sábia poderosa do Candomblé baiano: que a pipoca é a comida sagrada do Candomblé...
A pipoca é um milho mirrado, subdesenvolvido.
Fosse eu agricultor ignorante, e se no meio dos meus milhos graúdos aparecessem aquelas espigas nanicas, eu ficaria bravo e trataria de me livrar delas. Pois o fato é que, sob o ponto de vista de tamanho, os milhos da pipoca não podem competir com os milhos normais. Não sei como isso aconteceu, mas o fato é que houve alguém que teve a idéia de debulhar as espigas e colocá-las numa panela sobre o fogo, esperando que assim os grãos amolecessem e pudessem ser comidos.
Havendo fracassado a experiência com água, tentou a gordura. O que aconteceu, ninguém jamais poderia ter imaginado.
Repentinamente os grãos começaram a estourar, saltavam da panela com uma enorme barulheira. Mas o extraordinário era o que acontecia com eles: os grãos duros quebra-dentes se transformavam em flores brancas e macias que até as crianças podiam comer. O estouro das pipocas se transformou, então, de uma simples operação culinária, em uma festa, brincadeira, molecagem, para os risos de todos, especialmente as crianças. É muito divertido ver o estouro das pipocas!
E o que é que isso tem a ver com o Candomblé? É que a transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação porque devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser. O milho da pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. O milho da pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer, pelo poder do fogo podemos, repentinamente, nos transformar em outra coisa — voltar a ser crianças! Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo.
Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre.
Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e dureza assombrosa. Só que elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.
Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder um emprego, ficar pobre. Pode ser fogo de dentro. Pânico, medo, ansiedade, depressão — sofrimentos cujas causas ignoramos.Há sempre o recurso aos remédios. Apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação.
Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pense que sua hora chegou: vai morrer. De dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: PUF!! — e ela aparece como outra coisa, completamente diferente, que ela mesma nunca havia sonhado. É a lagarta rastejante e feia que surge do casulo como borboleta voante.
Na simbologia cristã o milagre do milho de pipoca está representado pela morte e ressurreição de Cristo: a ressurreição é o estouro do milho de pipoca. É preciso deixar de ser de um jeito para ser de outro.
"Morre e transforma-te!" — dizia Goethe.
Em Minas, todo mundo sabe o que é piruá. Falando sobre os piruás com os paulistas, descobri que eles ignoram o que seja. Alguns, inclusive, acharam que era gozação minha, que piruá é palavra inexistente. Cheguei a ser forçado a me valer do Aurélio para confirmar o meu conhecimento da língua. Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar.
Meu amigo William, extraordinário professor pesquisador da Unicamp, especializou-se em milhos, e desvendou cientificamente o assombro do estouro da pipoca. Com certeza ele tem uma explicação científica para os piruás. Mas, no mundo da poesia, as explicações científicas não valem.
Por exemplo: em Minas "piruá" é o nome que se dá às mulheres que não conseguiram casar. Minha prima, passada dos quarenta, lamentava: "Fiquei piruá!" Mas acho que o poder metafórico dos piruás é maior.
Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem.
Ignoram o dito de Jesus: "Quem preservar a sua vida perdê-la-á".A sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estoura. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca macia. Não vão dar alegria para ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo a panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo.
Quanto às pipocas que estouraram, são adultos que voltaram a ser crianças e que sabem que a vida é uma grande brincadeira...
"Nunca imaginei que chegaria um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. Pois foi precisamente isso que aconteceu".
O texto acima foi extraído do jornal "Correio Popular", de Campinas (SP), onde o escritor mantém coluna bissemanal.
Rubem Alves: tudo sobre sua vida e sua obra em "Biografias".
Rubem Alves
A culinária me fascina. De vez em quando eu até me até atrevo a cozinhar. Mas o fato é que sou mais competente com as palavras do que com as panelas.
Por isso tenho mais escrito sobre comidas que cozinhado. Dedico-me a algo que poderia ter o nome de "culinária literária". Já escrevi sobre as mais variadas entidades do mundo da cozinha: cebolas, ora-pro-nobis, picadinho de carne com tomate feijão e arroz, bacalhoada, suflês, sopas, churrascos.
Cheguei mesmo a dedicar metade de um livro poético-filosófico a uma meditação sobre o filme A Festa de Babette que é uma celebração da comida como ritual de feitiçaria. Sabedor das minhas limitações e competências, nunca escrevi como chef. Escrevi como filósofo, poeta, psicanalista e teólogo — porque a culinária estimula todas essas funções do pensamento.
As comidas, para mim, são entidades oníricas.
Provocam a minha capacidade de sonhar. Nunca imaginei, entretanto, que chegaria um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. Pois foi precisamente isso que aconteceu.
A pipoca, milho mirrado, grãos redondos e duros, me pareceu uma simples molecagem, brincadeira deliciosa, sem dimensões metafísicas ou psicanalíticas. Entretanto, dias atrás, conversando com uma paciente, ela mencionou a pipoca. E algo inesperado na minha mente aconteceu. Minhas idéias começaram a estourar como pipoca. Percebi, então, a relação metafórica entre a pipoca e o ato de pensar. Um bom pensamento nasce como uma pipoca que estoura, de forma inesperada e imprevisível.
A pipoca se revelou a mim, então, como um extraordinário objeto poético. Poético porque, ao pensar nelas, as pipocas, meu pensamento se pôs a dar estouros e pulos como aqueles das pipocas dentro de uma panela. Lembrei-me do sentido religioso da pipoca. A pipoca tem sentido religioso? Pois tem.
Para os cristãos, religiosos são o pão e o vinho, que simbolizam o corpo e o sangue de Cristo, a mistura de vida e alegria (porque vida, só vida, sem alegria, não é vida...). Pão e vinho devem ser bebidos juntos. Vida e alegria devem existir juntas.
Lembrei-me, então, de lição que aprendi com a Mãe Stella, sábia poderosa do Candomblé baiano: que a pipoca é a comida sagrada do Candomblé...
A pipoca é um milho mirrado, subdesenvolvido.
Fosse eu agricultor ignorante, e se no meio dos meus milhos graúdos aparecessem aquelas espigas nanicas, eu ficaria bravo e trataria de me livrar delas. Pois o fato é que, sob o ponto de vista de tamanho, os milhos da pipoca não podem competir com os milhos normais. Não sei como isso aconteceu, mas o fato é que houve alguém que teve a idéia de debulhar as espigas e colocá-las numa panela sobre o fogo, esperando que assim os grãos amolecessem e pudessem ser comidos.
Havendo fracassado a experiência com água, tentou a gordura. O que aconteceu, ninguém jamais poderia ter imaginado.
Repentinamente os grãos começaram a estourar, saltavam da panela com uma enorme barulheira. Mas o extraordinário era o que acontecia com eles: os grãos duros quebra-dentes se transformavam em flores brancas e macias que até as crianças podiam comer. O estouro das pipocas se transformou, então, de uma simples operação culinária, em uma festa, brincadeira, molecagem, para os risos de todos, especialmente as crianças. É muito divertido ver o estouro das pipocas!
E o que é que isso tem a ver com o Candomblé? É que a transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação porque devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser. O milho da pipoca não é o que deve ser. Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro. O milho da pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer, pelo poder do fogo podemos, repentinamente, nos transformar em outra coisa — voltar a ser crianças! Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo.
Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre.
Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo. Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira. São pessoas de uma mesmice e dureza assombrosa. Só que elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.
Mas, de repente, vem o fogo. O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos. Dor. Pode ser fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder um emprego, ficar pobre. Pode ser fogo de dentro. Pânico, medo, ansiedade, depressão — sofrimentos cujas causas ignoramos.Há sempre o recurso aos remédios. Apagar o fogo. Sem fogo o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação.
Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pense que sua hora chegou: vai morrer. De dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz. Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: PUF!! — e ela aparece como outra coisa, completamente diferente, que ela mesma nunca havia sonhado. É a lagarta rastejante e feia que surge do casulo como borboleta voante.
Na simbologia cristã o milagre do milho de pipoca está representado pela morte e ressurreição de Cristo: a ressurreição é o estouro do milho de pipoca. É preciso deixar de ser de um jeito para ser de outro.
"Morre e transforma-te!" — dizia Goethe.
Em Minas, todo mundo sabe o que é piruá. Falando sobre os piruás com os paulistas, descobri que eles ignoram o que seja. Alguns, inclusive, acharam que era gozação minha, que piruá é palavra inexistente. Cheguei a ser forçado a me valer do Aurélio para confirmar o meu conhecimento da língua. Piruá é o milho de pipoca que se recusa a estourar.
Meu amigo William, extraordinário professor pesquisador da Unicamp, especializou-se em milhos, e desvendou cientificamente o assombro do estouro da pipoca. Com certeza ele tem uma explicação científica para os piruás. Mas, no mundo da poesia, as explicações científicas não valem.
Por exemplo: em Minas "piruá" é o nome que se dá às mulheres que não conseguiram casar. Minha prima, passada dos quarenta, lamentava: "Fiquei piruá!" Mas acho que o poder metafórico dos piruás é maior.
Piruás são aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente, se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem.
Ignoram o dito de Jesus: "Quem preservar a sua vida perdê-la-á".A sua presunção e o seu medo são a dura casca do milho que não estoura. O destino delas é triste. Vão ficar duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca macia. Não vão dar alegria para ninguém. Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo a panela ficam os piruás que não servem para nada. Seu destino é o lixo.
Quanto às pipocas que estouraram, são adultos que voltaram a ser crianças e que sabem que a vida é uma grande brincadeira...
"Nunca imaginei que chegaria um dia em que a pipoca iria me fazer sonhar. Pois foi precisamente isso que aconteceu".
O texto acima foi extraído do jornal "Correio Popular", de Campinas (SP), onde o escritor mantém coluna bissemanal.
Rubem Alves: tudo sobre sua vida e sua obra em "Biografias".
Sou uma eterna sagitariana, apaixonada pelo meu filho. Adoro fotografar, curtir a natureza, etc. E como diz o Fefê, I love you three...expliquei o correto e ele me fez acreditar que amar three é muito melhor que amar too e eu gostei ;)
domingo, 8 de abril de 2018
04 contas no Instagram
Conta @o_lixo_e_nosso_SOSO Lixo não é seu, o lixo é nosso_SOS
https://www.instagram.com/o_lixo_e_nosso_SOS/
Preocupada com a produção de lixo no mundo, principalmente descartados nas praias pois machucam e matam animais marinhos
Conta pessoal: @aninhaapolinario
https://www.instagram.com/aninhaapolinario/
Contato humano, ♻️, natureza, 🎨, crianças,🌎arte urbana, ❤️, animais, 🌙e música.
Ilustres invisíveis @ilustresinvisiveis
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Preocupada com a produção de lixo no mundo, principalmente descartados nas praias pois machucam e matam animais marinhos
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Registros fotográficos que pretendem fazer com que os
moradores de rua sejam notados e suas histórias emerjam como experiências relevantes que
possam ser compartilhadas resgatando a identidade e promovendo a dignidade destes nossos
semelhantes.
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Criação/Produção institucionais, animatic, narramatic, games, ura, internet, ooh, etc. casting/orçamentos aninha.apolinario@granadamusik.com.br
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